A tragédia ocorrida no dia 6 no metrô de São Paulo, que vitimou Lourivaldo Nepomuceno, poderia ter sido evitada com o uso de tecnologias já disponíveis e amplamente utilizadas em sistemas de transporte ao redor do mundo. A vítima ficou presa entre a porta da plataforma e a do vagão, um espaço que deveria estar coberto por sensores, câmeras e mecanismos de segurança automatizados. Esse tipo de falha, infelizmente, escancara uma ausência de integração entre sistemas humanos e digitais em um ambiente que exige precisão milimétrica para garantir vidas.
Um dos principais pontos críticos foi a ausência de detecção automática do obstáculo entre as portas. Em sistemas mais modernos, sensores a laser ou infravermelhos impedem o fechamento caso algo esteja obstruindo o vão, mesmo que parcialmente. Esses dispositivos são programados para agir em tempo real, bloqueando o mecanismo de partida até que a área esteja completamente livre. A ausência desse tipo de automação no caso em questão permitiu que a composição fosse liberada sem a devida segurança.
Além dos sensores, outro fator que poderia ter feito a diferença é o uso de câmeras com inteligência artificial acopladas ao sistema de monitoramento. Esses equipamentos são capazes de identificar padrões de risco, como movimentos inesperados, aglomerações e falhas operacionais. Se houvesse uma análise visual ativa, o sistema teria detectado a presença do passageiro preso e poderia acionar automaticamente alarmes ou travas de segurança, interrompendo o funcionamento do trem imediatamente.
É importante considerar que o transporte metropolitano brasileiro ainda adota práticas muito dependentes da atuação humana, especialmente em horários de pico. Isso aumenta a margem de erro, pois operadores e seguranças são expostos a situações caóticas que dificultam a percepção de riscos. A automação, nesse contexto, não substitui o trabalho humano, mas o complementa, oferecendo uma segunda camada de segurança mais ágil, objetiva e constante. Em casos como o ocorrido, segundos fazem toda a diferença.
Outro ponto negligenciado foi a comunicação entre os sistemas de bordo e os equipamentos da plataforma. Em muitas redes modernas ao redor do mundo, os trens só partem após uma confirmação cruzada entre sensores da composição e sensores externos. Essa checagem dupla evita o acionamento acidental em casos de detecção imprecisa ou ausência de verificação visual. Com esse nível de integração, o acidente fatal em São Paulo teria sido barrado antes mesmo de a composição começar a se mover.
Vale destacar também a importância da manutenção preventiva e das atualizações tecnológicas nos sistemas de transporte. A confiança excessiva em equipamentos antigos, ou a falta de investimento em melhorias, contribui para a repetição de erros que já poderiam ter sido corrigidos. Não basta que os trens estejam funcionando; é preciso que funcionem dentro dos padrões mais atuais de segurança. O caso recente mostra que a negligência nesse aspecto não é uma falha técnica — é uma omissão estrutural.
O impacto de uma perda como essa ultrapassa os limites de uma tragédia isolada. Ela levanta uma discussão urgente sobre as prioridades do transporte público brasileiro. Quando uma pessoa perde a vida em uma situação que poderia ter sido resolvida com tecnologia de baixo custo e fácil aplicação, o problema deixa de ser técnico e se torna ético. É o tipo de acontecimento que exige uma revisão completa dos protocolos operacionais e um novo olhar sobre onde estão sendo aplicados os recursos públicos e privados.
Por fim, é necessário compreender que segurança em massa não é uma questão de sorte, mas de investimento e planejamento. Tragédias como a que tirou a vida de Lourivaldo Nepomuceno são evitáveis e inaceitáveis em um contexto onde soluções inteligentes estão ao alcance. A tecnologia existe, está disponível e precisa ser implementada com urgência para que nenhuma outra vida seja perdida da mesma forma. O futuro do transporte começa com a decisão de não repetir os erros do presente.
Autor : Valery Baranov